A verdade sobre os polióis e o porquê estão “saindo de moda”.
Os polióis começaram a ser excluídos das dietas por conta do potencial que eles têm em causar desconfortos (dos mais leves ao mais pesados) ao nosso trato gastrointestinal. Inclusive eles fazem parte da lista de FODMAP, termo que significa “oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis”. Abaixo deixo uma breve explicação sobre o assunto (que vou me aprofundar em outro artigo).
“FODMAP é o conjunto de alimentos fermentáveis que são mal absorvidos pelo nosso organismo e que podem causar desconforto intestinal. Eles são classificados como oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis. Os alimentos fermentáveis referidos são os carboidratos não digeridos pelo trato digestivo humano. Assim, esta alta osmolaridade e a formação de gases pela microbiota intestinal acabam por desencadear os referidos sintomas.”
Infelizmente a legislação não estabelece um limite de uso por acreditar que são opções seguras para indivíduos saudáveis em doses consideráveis (até 90g!). A questão é: o que significa a palavra “saudáveis” no contexto anterior? Quem atende em consultório sabe que há uma “epidemia” de queixas gastrointestinais que variam de estufamento, dor e distensão abdominal, flatulência, diarreia, constipação e por aí vai.
Sabendo disso, é possível concluir que talvez a quantidade permitida pelos órgãos regulatórios, não convém para essa maioria. Por isso, seria necessária uma regulação do uso desses ingredientes em praticamente toda a cadeia alimentícia. O consumo frequente e simultâneo de ultraprocessados repletos de lácteos (whey, caseína, soro de leite, leite em pó e afins), de glúten, de açúcar (todos), de polióis, de fibra e similares, de corantes, de aromatizantes, de sorbatos, de polifosfatos, de glutamato, de agrotóxicos pode estar sobrecarregando nossas entranhas e isso não é bom, mesmo com o apelo de ser “fitness” ou algo do tipo.
Agora vamos a um trecho da definição científica para polióis, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes:
Veja bem, existe uma maior necessidade de uso, uma vez que os polióis tem menor dulçor que a sacarose e para ficar doce como o açúcar (que é o que o povo espera) eles precisam usar mais adoçante. No caso do maltitol, essa quantidade compensatória pode ser problemática. O maltitol conta com um índice glicêmico de 35 e 60% das calorias do açúcar, uma combinação que pode resultar em uma carga* glicêmica indesejada, especialmente se um diabético estiver consumindo com a bandeira “zero” açúcar. Então não convém ingeri-lo como se fosse “zero”, porque está longe de ser.
*Carga glicêmica é tão ou mais importante que o índice glicêmico, falarei sobre isso num próximo artigo.
O eritritol, por sua vez, tem menos repercussões gastrointestinais e tem realmente zero carga glicêmica, porém sua diluição menos efetiva e o seu sabor “gelado” incomoda muito os paladares em geral (o meu, por exemplo). Já o xilitol costuma ter uma menor aceitação intestinal dentre os anteriores e também apresenta sabor residual.
Resumindo, todos os polióis são menos prejudiciais à glicemia que o açúcar, mas são igualmente refinados e possuem desvantagens. E por quê? Porque independentemente da fonte, nosso organismo não foi feito para processar o sabor doce com a frequência que estamos sendo acostumados. Por isso a natureza “dificulta e coloca essas desvantagens” sejam elas glicêmicas ou intestinais, para que nunca exageremos na dose!
No entanto, quando desrespeitamos a natureza e começamos a inventar atalhos para comer mais e mais doces, atrapalhamos todo o funcionamento dessa máquina perfeita que é o corpo humano. Não tem fórmula mágica, o emagrecimento é consequência de uma soma de “hábitos emagrecedores”, o que inclui a redução máxima de danos em todas as nossas escolhas.
O sabor doce (artificial e natural) sempre virá acompanhado de algum ponto negativo: se não for uma glicemia mais elevada, será a compulsão alimentar, ou a dor de barriga ou a cárie, ou o ganho de peso ou o paladar viciado. Então o segredo é DOSAR sempre, sem terrorismo e sem fanatismo (sim, há quem idolatre adoçantes e ignore os malefícios). Terão situações metabólicas em que entre escolher pelo açúcar refinado ou pelo adoçante refinado, a escolha será pelo adoçante. Mas sempre com parcimônia.
O problema é que a indústria “zero” está enchendo suas formulações com toda sorte de substitutos ao açucar, as vezes quatro tipos em uma mesma composição. E isso está acontecendo porque o povo não quer educar o paladar, só quer continuar a comer doces muito doces sem se preocupar com nutrientes e efeitos colaterais. Uma pessoa saudável que tem consciência do que come, pode comer inclusive açúcar, porque saberá a hora de parar. Claro que a procura por fontes menos refinadas (para açúcar e adoçante) sempre será bem-vinda como substituir o açúcar refinado por mel, melado, açúcar de coco ou açúcar mascavo.
Por fim, dosar a quantidade e escolher pelo mais natural (seja açúcar ou adoçante) é o melhor dos dois mundos.
E fica também a reflexão: até que ponto a redução calórica compensa as intercorrências gastrointestinais decorrentes do consumo de polióis? Será que esses adoçantes não estão piorando a microbiota (que já não está muito boa) da maioria?
Redigido por:
Larissa Ludwig da Silveira
nutricionista (CRN SC 6986)
co-fundadora da Cookoa Chocolates
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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